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Como a linguagem molda a maneira como pensamos

Como a linguagem molda a maneira como pensamos

Existem mais de 7.000 idiomas atualmente, um verdadeiro testemunho da capacidade humana de criar universos de pensamento. E essa definição, universos de pensamento, é uma de grande importância para linguistas de todo o mundo. A linguagem é, de maneira especial, o mecanismo qualitativo e quantitativo do pensamento. Portanto, há uma forte ligação entre a linguagem e o idioma, com o cognitivo.

É através da linguagem que ideias são transmitidas, a comunicação dessa forma permite induzir ideias, transmiti-las, e aprimorá-las. Dito isso, é natural que seja perguntado se a linguagem de fato interfere no pensamento. Charlemagne, antigo imperador romano, disse que “Ter uma segunda língua, é possuir uma segunda alma", sugerindo que a resposta para esta pergunta é positiva. Porém somente recentemente houveram estudos científicos para desenvolver essa pergunta.

Atualmente, existem em torno de 200 falantes nativos de Kuuk Thaayorre, uma língua de uma pequena região australiana. Os Thaayorre não possuem um dos recursos nucleares de um idioma, que são as palavras de direção. Para eles, não há a ideia de “esquerda” ou “direita”, não é possível articular uma frase como: “Sua mão direita”. Em vez disso, direções cardeais são utilizadas. O posicionamento é fixado ao meio, não acontecendo de forma relativa, por mais estranho que possa parecer para estrangeiros, uma frase como: “Seu braço nordeste” é normal. Esse fato permite que os Thaayorre, através de seu idioma, tenham uma habilidade rara e bem desenvolvida de localização geográfica.

Outro recurso indispensável da língua é a contagem. A utilização da lista numérica para temporariamente nomear cada objeto com um número, e efetivamente fazer a contagem de uma série de elementos é um benefício da linguagem que é difícil imaginar como os idiomas seriam sem ele. Porém, existem idiomas como Munduruku, falados por pequenas tribos amazônicas, que não possuem números. E ao invés disso, devem depender exclusivamente de palavras como “poucos” e “muitos”. A invenção e utilização de números e da própria matemática é definitivamente indispensável, e muito reveladora. Percebe-se então como os adventos da língua criam novos universos de ideias. Universos inteiros, da matemática mais simples até a mais experimental, surgem da simples codificação do mundo através de números.

Possivelmente a comparação mais interessante ao desenhar paralelos entre idiomas e influências no pensamento é a de gênero. Para pessoas familiares com idiomas que descendem do Latim, a integração do gênero nas palavras é uma formação natural da língua. E então, pergunta-se, o gênero de uma palavra muda a percepção que as pessoas têm dela? Para Boroditsky, a resposta é afirmativa. Em estudos de caso em grupos controlados, foi descoberto que um mesmo substantivo terá percepções distintas dependendo da linguagem falada. A fim de exemplificar essa descoberta vê-se a tradução de “a ponte”, em alemão, é um substantivo feminino: “die Brücke”. Enquanto no espanhol é um substantivo masculino: “el puente”. De acordo com Boroditsky, pessoas que falam alemão têm a tendência de utilizar adjetivos e características tipicamente femininas, descrevendo “a ponte” como elegante e linda. Enquanto pessoas que falam espanhol têm a tendência de utilizar adjetivos tipicamente masculinos como “forte”.

A linguagem também influencia na percepção do mundo visível, a interpretação das cores é um exemplo claro disso. Pessoas que falam idiomas com uma variedade maior de palavras para descrever as cores, têm uma percepção melhor delas. O inglês, por exemplo, possui uma única palavra para a cor “azul”, de forma geral, podendo ter modificadores. Enquanto em Russo, existem duas palavras que dividem o espectro de cor azul, “goluboy”, para azuis claros, e “siniy”, para azuis escuros. Apesar do inglês possuir modificadores como “dark”, que serviria para especificar o azul escuro, o simples fato da língua possuir palavras diferentes cria uma distinção quase que categórica, habilitando, então, uma melhor percepção de cores em tons mais precisos.

Por último, há outra distinção importante na gramática que influencia a percepção do mundo dependendo da estrutura gramatical em que alguém está inserido. Um idioma como o inglês, possui uma dependência grande no sujeito, efetivamente colocando ênfase sempre no ator de uma ação, e não na ação exclusivamente. Existem recursos que eliminam o ator de uma ação, porém a gramática da língua faz com que, naturalmente, uma pessoa que fale inglês tenha uma atenção maior ao ator de alguma ação. Consoante a uma língua descendente do Latim, que criam uma tendência na pessoa que fala o idioma de prestar atenção na ação, e menos no ator que a efetuou.

Idiomas são entidades vivas, que são feitas para quaisquer que sejam as necessidades de seus falantes. Há uma riqueza imensa ao observar esses universos de pensamento, que são uma parte tão integral da vida de cada pessoa, que são moldados e moldam a todos de acordo. Conclusivamente, pensamos, nossas ideias são inteiramente nossas? O que seu idioma diz sobre você? e, o que você busca dizer com seus idiomas?

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